quinta-feira, 4 de outubro de 2007

De Tarde

Fica aqui um post pessoal em jeito de homenagem a uma pessoa que já não está entre nós mas que continua viva na minha memória como uma doce lembrança, tal como era a sua amizade por mim. Relendo este poema lembrei a sua ternura de avô, que mesmo não o sendo, não o poderia ter sido mais! Consigo relembrar cada vez que o ouvi sair dos seus lábios, sempre com o mesmo entusiasmo de primeira vez, como se fosse redescoberto a cada estrofe. Ainda percorre em mim a culpa de não o ter acompanhado quando, talvez, precisasse mais... guardo-o comigo na sua vivacidade perspicaz e tranquila numa recordação que nem a morte consegue roubar...




Naquele pique-nique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!


Cesário Verde

3 comentários:

Rui Caetano disse...

O poema de Cesário Verde é muito bonito, mas recordar desta forma uma pessoa querida que já foi ao encontro da outra face desta existência, isto é, a não existência, é ainda mais bonito. Recordar é gravar no nosso íntimo tudo o que de bom essa pessoa nos deixou.

Dakini disse...

Há pessoas ke nunca eskecemos e sempre estarão nos nossos coracoes :) bom fim de semana *****

Mabides disse...

Não posso dizer nada em relação a isto ... achei a homenagem linda e tenho a certeza que o homenageado também gostou!Ele sempre te tratou com o maior amor e carinho...e eu sei o quanto ele significava para ti!Espero que um dia alguém tb se lembre de mim com tanto carinho e afecto como tu o acabaste de fazer!
Bjs Grandes!